domingo, abril 06, 2008

Shellac em Votorantim e um bate-papo com Bob Weston

Ao olhar pela janela do ônibus, aquelas ruas cercadas por pequenos comércios (leia-se materiais de construção e bares-espelunca), não havia outra pergunta na minha cabeça a não ser "que diabos o Shellac veio fazer em Votorantim?". A capital do cimento, como é conhecida, tem um pouco mais que cem mil habitantes e preserva o ar bucólico de interior, mas com rastros de vida urbana em algumas avenidas. Tá certo, a cidade não é o fim da civilização, mas o fato do Shellac tocar lá e não em Belo Horizonte (cidade de Marcos Boffa, o iluminado que trouxe a banda para o Brasil), por exemplo, me intrigava desde o anúncio da turnê da banda no Brasil. Bauru, a outra cidade do interior na qual o Shellac passou, é até compreensível, pois se trata de uma cidade universitária, que gira em torno de uma faculdade pública (a Unesp) e pelo que vivi na cidade (ao namorar uma garota que fazia faculdade lá) a cidade tem muito a ver com o rock, se não pelos seus habitantes, pelo menos os estudantes dão conta do recado. Ao chegar na rua da prefeitura, um amigo, o Diego, que estava comigo, com dedo em riste olho para mim: era o som do baixo de Bob Weston.

Ainda faltavam quase quatro horas para o início do show quando saímos do ônibus. Perguntamos a localização da praça Zeca Padeiro a um policial que nos informou detalhadamente "ande cinquenta metros e atravesse à direita". Demos risadas pela minúscia em sua instrução e corremos até a praça. Ao vislumbrar o palco, a melhor cena possível se revelou quando Steve Albini mandava algumas instruções sobre o microfone para o técnico de som, enquanto Todd Trainer, sentado à frente de sua bateria, testava a intensidade do bumbo. Bob Weston dedilhava o baixo enquanto nos olhava.

- Será que eles nos reconheceu, man? - perguntou Diego.
- Acho que sim. Nós temos rostos fáceis de guardar.

Eles continuaram passando o som, em testes infindáveis, tocando músicas aleartórias enquanto Albini falava frases como "you have the keys to your future". De repente um choque de microfone na boca de Albini alertou o pessoal do som. Após a passagem do som, somente Trainer permaneceu no palco, ajustando sua bateria, nivelando os pratos num processo lento e caprichoso. Ficamos ao lado da mesa de som, observando os últimos ajustes enquanto eles testavam a iluminação. Haviam algumas barras de ferro que separavam o palco do público, e o Shellac pediu que eliminassem essa barreira como também tirassem a fumaça de gelo seco, e efeitos sincronizados de iluminação. "Deixa o pessoal livre, se quiserem subir no palco, sem problemas", disse Albini a um dos funcionários do SESC.

Enquanto Diego e eu conversávamos, Bob Weston saiu do "backstage" montado às pressas e caminhava lentamente em nossa direção. Olhei de relance e continuei a conversa com o Diego.

- Vocês estavam no show lá no Clash Club, não é? - nos perguntou Weston, olhando para nossas camisetas.
- Sim, sim, estávamos lá - respondemos impressionados com o fato dele ter lembrado.

Ele eu um sorriso e olhou para o céu.

- Será que chove hoje?
- Eu acho que não - respondi procurando alguma nuvem que contrariasse minha resposta - a não ser que aquela nuvens negras venham pra cá, mas acho que hoje não chove.
- O vento está pra lá, acho que não chove não - complementou Diego.
- Ótimas camisetas, ótimas bandas - observou Weston apontando para minha camiseta dos Ramones e a camiseta do Motörhead do Diego - vocês estavam com camisetas de bandas lá em São Paulo, né?
- Eu sim, eu estava com uma do AC/DC, mas ele estava com uma camiseta preta - lembrei.

Comentei com ele sobre o fato deles tocarem em Votorantim, uma cidade pequena, e ele respondeu que o SESC que havia pago, então eles teriam que tocar. Isso o alertou para a questão do público, o que o fez perguntar se encheria. Respondi que a curiosidade chamaria o público, que mesmo não conhecendo, apareceria pra conferir. Mas ao redor, naquele momento, a cena não era muito positiva: aguns homens de chapéu de palha, uns políciais e alguns adolescentes sofridos perambulavam perdidos pela praça.

Resolvi encher o Bob Weston de perguntas. Steve Albini é muito reservado e saía de vez enquando do backstage para ver o movimento, ou falar com algum técnico. Não responderia pergunta alguma. Talvez um "how are you". O Todd Trainer é gente fina pra caramba, aliás, foi o primeiro a falar conosco, lembrou de nós também, e quando deitamos no chão esperando o início do show, ele apareceu com dois copos de água para aliviar o nosso calor. Mas o Bob Weston era mais aberto à perguntas, notei que ele estava afim de conversa.

Robert Spurr Weston IV é um americano pacato, nascido em Waltham, Massachusetts no ano de 1966. De fala suave e intuitiva, revela-se um velho punk, que testemunhou o surgimento da cena underground na época pós-punk, seja trabalhando como assistente de produção ou engenheiro de som por trás de grandes nomes como o Sebadoh, Polvo, June of 44, Rodan, entre outros ou como baixista na banda Volcano Suns no fim dos anos 80, como também chegou a tocar na lendária Mission of Burma. Depois de anos e anos de envolvimento com os melhores momentos do rock, acalmou-se numa vida de figura respeitável do rock underground, devotando a maior parte do seu tempo ao trabalho de mixagem e produção de discos e ao seu hobbie, chamado Shellac.

RockTown! - Bob, muita gente tem falado sobre a duração dos shows. Em Bauru, umas pessoas reclamaram da duração do show, coisa de 50 minutos.
Bob Weston
- Não, eles estão enganados. O show teve 75 minutos. Mas se você notar, um show longo muitas vezes é cansativo. O Fugazi, por exemplo, é minha banda preferida. Quando ía em shows deles, muitas vezes me cansava, porque têm horas que você cansa de balançar a cabeça. Isso é verdade, você cansa.

RockTown! - Caramba, num show do Fugazi?
Bob Weston - Sim, não importa o quanto você goste de uma banda, têm horas que você cansa. No nosso caso, também conta a nossa idade. Quando uma banda toca devagar (fazendo gestos de toque de harpa) tudo bem, dá pra prolongar. Mas quando uma banda toca como nós (fazendo gestos de baterista frenético), você cansa, não dá pra prolongar muito. Ainda mais a gente.

RockTown! - Idade? Você está com quantos anos?
Bob Weston - Eu tenho 42 e sou o mais novo da banda. O Steve tem 45 se não me engano e o Todd tem mais.

RockTown! - E o Todd ainda tá trabalhando como gerente de fábrica?
Bob Weston - Não, não. Isso faz tempo, muito tempo.

RockTown! - E vocês estão vivendo em Chicago? A base da banda fica lá?
Bob Weston - Não, não. O Steve e eu moramos em Chicago. O Todd mora em Minneapolis, mas a base não fica em nenhuma das cidades. A base da banda é onde nós três no encontrarmos, seja em Chicago, seja em Minneapolis. A maioria das vezes o Todd vai para Chicago, mas isso não é uma regra.

Bob nos perguntou se tínhamos uma banda, e respondemos positivamente. Ele comentou sobre seu trabalho de mixagem e disse trabalhar com uma banda brasileira, cujo o nome ele enrolou ao falar, esbarrando na dificuldade do idioma português. Nesse instante, os responsáveis pelo som colocaram uma música dos Titãs bem alto, atrapalhando a conversa. Bob pediu licença e sacou de seu bolso um protetor de ouvidos. Dei uma risada e perguntei se não havia gostado. Ele confirmou o desgosto e contei sobre a banda paulistana, o seu início e o fato de ser muito mainstream. Todd Trainer se dirigiu à van da banda e sacou um disco para trocar o som.

RockTown! - Você gosta de CSS?
Bob Weston - Nunca ouvi. Mas minha esposa adora. Eu gosto muito do Bonde do Rolê. Lembro de ter ido a um show deles em Londres, não havia mais que 20 pessoas de público. Gostei mesmo.

RockTown! - Sim, ele misturam rock com samples de batidas dos anos 80, que lá no Rio de Janeiro chama-se funk pancadão.
Bob Weston - É mesmo? (Arregala os olhos) Eu realmente gostei da batida. A vocalista também me chamou a atenção, explosiva, bem punk!

RockTown! - Ex-vocalista, Bob. Ela saiu da banda.
Bob Weston - Sério? A graça da banda era ela pulando e gritando.

RockTown! - A MTV Brasil agora está fazendo um concurso para escolher a nova vocalista.
Bob Weston - Não quero nem ver isso.

O disco do LCD Soundsystem começou a tocar, trazendo uma sensação bem mais agradável que ouvir o Paulo Miklos cantando.

RockTown! - Isso é LCD Soundsystem, não é?
Bob Weston - É sim, aliás, esse disco é meu (aponta o dedo para o Todd)! É o som que mais estou ouvindo no momento. As batidas, a linha de baixo, tudo é muito bom.

RockTown! - O LCD Soundsystem é um projeto de um cara só, o que acha disso?
Bob Weston - A idéia é dele, mas ele não está só. Ele conta com muita gente boa por trás. Nunca um projeto pode ser chamado se solo.

Falando em projeto de um cara só, acabei fazendo uma última pergunta, mais pela curiosidade.

RockTown! - Bob, você conhece o Bob Pollard, do Guided by Voices?
Bob Weston - Conheço, mas conheço apenas o trabalho dele. Não o conheço pessoalmente.

Lá se foi a chance de estender a conversa.

Quando o show começou, havia um público muito bom. Bob reclamou de um cara que fumava maconha, mandou um cara desligar a câmera porque não queria aparecer no vídeo dele, tocou por muitos minutos de costas para o público olhando para o amplificador. Respondeu diversas perguntas durante o show, como de costume, inclusive quando perguntaram se ele gostava de cerveja: "eu não gosto de cerveja, eu odeio cerveja. Prefiro leite, água, sou um grande fã de sucos". Um bêbado chegou com uma lata de Skol erguida gritando: "do you like brazilian beer?" e ofereceu a lata ao Bob. Bob, após negar novamente seu gosto por cerveja, respondeu como todo gringo deve responder: "mas eu gosto de cachaça. Tenho uma garrafa guardada na minha mala, vou levá-la pra casa". Todos deram risadas, apenas complementando o clima descontraído de um show do Shellac.

A banda fará muita falta. Pela música, pela proximidade com os fãs, pela interatividade proposta em seus atos e principalmente pela sensação causada ao percebermos que havia entre nós tanta relevância histórica concentrada em um pequeno palco, transformando o nosso surreal em uma realidade inacreditável. Permanecem surreais.

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Disponibilizei alguns vídeos do show, lá no YouTube:

The End of Radio
http://www.youtube.com/watch?v=Wtk_HoYyRLI

Steady as She Goes
http://www.youtube.com/watch?v=uN_MGoLbmWc

quarta-feira, fevereiro 20, 2008

Só pra Constar

Pelos deuses, só pra constar, Shellac invadirá o Brasil, com seu exército de imoralidade e honestidade explícita, pelo sul do nosso território. Após conquistar campos estratégicos como Santiago e Bueno Aires, chegará triunfando por baixo, em Porto Alegre. Depois marchará com determinação para fazer o melhor show da minha vida, aqui em São Paulo (clique na imagem acima para constatar). Ah! Só pra constar: não há defesa que resista ao poder sonoro deles.

Não conhece a banda? Disponibilizei a discografia completa deles no meu outro blog, o RockTown! Downloads.

terça-feira, janeiro 08, 2008

Previsões do Mago Lúcio Ribeiro

"Nessa época mística que precedeu as festas, fui a um oráculo pop saber o que vai pegar no ano que está começando. E, segundo a divindade, o que vai bombar em 2008 é o seguinte: roxo, Franz Ferdinand, iphone 3G, ovo frito, festinhas caseiras para ouvir pós-punk brasileiro, manga (a fruta), ver neve, indie chinês, hidratante pear glacé da Victoria’s Secret, “Lost”, meninas de cabelos compridos, danças coletivas tipo trenzinho em baladas indie"

Vai tomar no cu, filho de uma puta, viadinho do caralho! Você só estraga o coitado do rock com essas merdas que saem da sua cabeça! Não passa de um groupie velho de moleques de vinte e poucos anos! E o pior é a molecada que paga-pau pra esse cuzão!

Pronto. Já desabafei. Agora vamos analisar friamente cada tendência:

Roxo: segundo minha namorada que faz moda, "agora é vinho, preto, vermelhão...";

Franz Ferdinand: sempre foram tendências, não precisamos de um "oráculo pop" para prever uma coisa tão óbvia - é só esses escocêses lançarem um disco que os indies abarrotam a rede em downloads;

iPhone 3G: pra quê prever a tendência lá de fora? digo lá de fora porque ele não funciona aqui, e se você acha que é malandrão pra caralho (desbloqueando o aparelho), a Apple é mais (bloqueando seu aparelho de novo via internet);

Ovo Frito: já dá pra imaginar os pseudo-intelectuais-de-merda saindo do "petit gateau" pro ovo frito. pago pra ver!;

Festinhas caseiras para ouvir pós-punk brasileiro: hahahaha! essa é a mais curiosa de todas. ambigüidade sexual à vista! indiezinhos (ex-emos) de mãos dadas numa orgia sexual sem pudores regadas a sexo (punhetas e chupetas). ah! o pós-punk é só o pretexto pra putaria;

Manga (a fruta): hum... caipirinha de manga infestando os bares da rua Augusta!;

Ver neve: ao contrário da tendência mundial, que aponta para o derretimento das geleiras, Lúcio Ribeiro incita seus pupílos a ver neve, pra tirar fotos e mostrá-las às próximas gerações. provavelmente pra ouvir da molecada: caralho, seu Lúcio! o senhor é tão old-school, viu a neve!;

Indie chinês: só se for por cima do cadáver de Mao Tsé Tung. Até imagino a letra do da cena "independente" de Pequim:

O governo é bom, o partido comunista é justo
Se você aderir à religião, vai levar um susto!


E depois de cada canção e clipe, uma voz diz: "essa música foi aprovada pelo Comitê de Cultura do Partido Comunista Chinês";

Hidratante Pear Glacé da Victoria’s Secret: dá pra ser mais bicha que isso?;

“Lost”: Será que eles continuarão enrolando o povo?;

Meninas de cabelos compridos: tá soando como jabá de marca de shampoo, tipo, alguma linha teen;

Danças coletivas tipo trenzinho em baladas indie: Na última ele acertou, pessoas indies ou não, quando bêbados, são capazes de fazer qualquer coisa. eu fiz isso.

Vai se foder, Lúcio, antes que eu me esqueça!

sábado, dezembro 08, 2007

Bauhaus está pronto

O Bauhaus anunciou que lançará seu primeiro disco em 24 anos e avisa que também este será o último. Já há uma data de lançamento prevista, dia 10 de março de 2007. 'Go Away White' é o nome do trabalho. É esperar pra ver.

quinta-feira, dezembro 06, 2007

Listas de Revistas - Acreditar ou não?

Com certeza você já abriu uma revista, folheou-a, e se atentou à uma matéria que estampava em letras garrafais: OS MELHORES DISCOS DA HISTÓRIA ou OS MELHORES DISCOS DO ANO ou algo semelhante. Você com certeza, olhou de cabo a rabo, visualizou umas 5 bandas que tiveram um lugar justo e só. Sim, justiça é o que menos se vê numa lista de revista. NME, Rolling Stone, Mojo, Q, Uncut entre outras sempre conseguem de forma incrível, dar uma mancada incrível. Tudo bem, não precisa falar, eu sei que isso é uma questão relativa, que opinião é como cu, todo mundo tem o seu. Mas numa lista de revista deve-se primar pelo bom senso, baseado num conhecimento aguçado de música, afinal, quem trabalha nessas revistas DEVE saber sobre música, associar influências, diferenciar um disco do outro e todo o roteiro de quem se arrisca a escrever sobre música. Mas ao passar dos anos, não há resquícios de bom senso na imprensa musical, graças a lançamentos de 'pesquisas' muito parciais, sem lógica e explicação. O que eu acho mais engraçado é o modo que eles atribuem credibilidade total à uma pesquisa entre leitores. Um exemplo que não é da música. A FIFA fez uma pesquisa em seu site, entre os internautas, para saber quem é o melhor jogador de todos os tempos. Por mais que tenha gente que ache o Maradona melhor que Pelé, é indiscutível a supremacia do brasileiro nas opiniões pelo mundo todo. Mas o Maradona ganhou. Por que? Ora, os Argentinos lotaram a internet, travaram o servidor da FIFA com tantas visitas e votos. Democrática, não? Muita gente que tem sua opinião não pôde votar, e ficou nisso. Claro que existe o fator da rivalidade Brasil x Argentina, é uma questão quase diplomática. Mas é um exemplo do sistema pífio que a FIFA escolheu (e que muitas revistas insistem).

Outro erro bastante comum é entregar nas mãos de apenas um crítico a missão de compilar uma lista. Lembro que em 2004, eu havia comprado a Playboy da Juliana Paes e eu não sabia se olhava pra bunda dela ou pra lista dos cem melhores discos do rock pela história. Enquanto me deliciava com as curvas da Juliana, me horrorizava com a parcialidade do Thales Menezes. Fã do Clash, ele colocou todos os discos da banda na lista, não relacionou por exemplo Rush (reclamação dos leitores) ou Radiohead (minha reclamação). Colocou o Sgt. Peppers em terceiro, em segundo lugar, pamem, Beggar's Banquet dos Rolling Stones (eles têm discos melhores) em segundo e em primeiro, obviamente colocou London Calling do Clash. Santo deus, o Clash é foda, o London Calling é um dos discos da minha vida, mas ficou ridículo como ele puxou o saco, como nem se esforçou para camuflar a tietagem descontrolada dele (semelhante ao amador do Lúcio Ribeiro que ao escrever sobre música, parece uma fã dos Beatles, lunática, estérica). Não houve nenhuma satisfação sobre os critérios que ele tomou, ele apenas foi arremessando discos pra ver no que dava. Se deu mal. Na edição posterior, havia gente xingado ele de burro, desmiolado, desinformado, moleque entre outras coisas. Gostei muito.

O esquema ideal é juntar um grupo de críticos, solicitar uma lista pessoal de cada um e depois, ligar as listas entre si e ver quais bandas coincidem nas melhores posições de todas as listas. É só somar a pontuação do artista, levando em conta notas decrescentes - por exemplo, numa lista de 50 discos, o 1º de uma lista ganha 50 pontos, o 2º ganha 49 e assim sucessivamente até que o 50º ganhe apenas um ponto. Não é complicado. Aí sim, há um sistema confiável entre um pleito especializado, que conhece da história e anda antenado com a atualidade.

Um dos exemplos mais recentes que posso citar é o da NME, revista renomada da Inglaterra, é uma referência principalmente quando o assunto é rock. De repente eles têm uma mirabolante idéia: fazer uma pesquisa com dois mil leitores pra saber quem foi o melhor rock star da história. O desastre era iminente e o resultado da pesquisa exibiu a catástrofe: primeiro lugar na lista de maiores rockstars da história ficou Kurt Cobain e em segundo (!) Pete Doherty! Você pode gostar de Libertines ou Babyshambles, pode até rir com a desgraça contínua que é a vida desse pobre diabo. Mas Pete Doherty não devia estar nem entre os cem maiores, que diria estar no segundo posto! E aí fica a questão: será que a NME está tão segura de sua credibilidade, de seu nome a ponto de lançar um embuste desse? Se eu fosse editor da revista, ao ver o resultado, vetaria na lata!

- Mas sr. Felipe, os internautas votaram, querem saber quem ganhou!
- Foda-se, veta essa bosta, Smith! Sabe o que está em jogo? A marca NME! Poe uma nota no site e pronto!
- Sim, senhor. Mas...
- Smith, vai pegar um café pra mim, vai...

Mas os editores hoje querem vender e foda-se a confiança. Tudo bem. É um erro (leia-se cagada) em meio a muitos acertos. Estão perdoados.

Já a revista Blender se desvencilhou dos braços (ou mouses) dos internautas e juntou cinco especialistas para montar a lista dos cem melhores álbuns do rock alternativo. O Pavement ganhou com o clássico Slanted and Enchanted (dura batalha contra outro gigante que ficou em segundo, o Daydream Nation do Sonic Youth). Não vou dizer que concordei em tudo, até porque há um absurdo coberto de hype, ali no sexto lugar: Funeral do Arcade Fire. Antes que os indiezinhos de plantão me apedrejem, deixem que eu explane o porquê da minha revolta. Embora seja um álbum espetacular, aclamado por críticos, músicos lendários como Bowie entre outros, acho que um álbum precisa de um tempo num "barril de carvalho" pra se tornar um grande trabalho, que influencie novas bandas e artistas. Funeral poderia angariar o 30º lugar sem problemas, mas 6º? Nem a pau, Nicolau (sim, eu mudei). Me irritei com o Bee Thousand do Guided by Voices ficar apenas com o modesto 31º lugar, sendo que esse disco influênciou muitos dos sons que ficaram à frente dele e não é só questão de influência, é questão de inovação e qualidade. Ah! Radiohead e Beck ficaram de fora! Bem, deixem eu voltar pro assunto principal. Por mais que haja chiadeira com os resultados, eles serão menores, bem menores que uma lista lucioribeirista(baseada na tietagem frenética) de alguns milhares de leitores, que às vezes nem sabem que existe Sonic Youth e acha que U2 é indie.

Se eu for citar exemplos, faria o maior artigo da internet, uma tese. Mas o que importa é analisar e dar o devido crédito à pesquisa. Não se iluda porque a Rolling Stone disse que alguns discos merecem estar numa lista de 50 melhores. Nem sempre eles têm razão. Embora seja uma bagunça a lista de internautas, às vezes essas revistas juntam jornalistas, que parecem estar bêbados ao escrever (ou cheio de grana de gravadora nos bolsos), para montar listas ou escrever resenhas. Na verdade, a mensagem desse post é "não acredite em tudo que você lê". Se quiser, não acredite em mim também.

segunda-feira, setembro 03, 2007

Excellent Italian Grayhound - Shellac


É incrível como o Shellac não muda. E isso é bom, muito bom. É incrível como o experimentalismo, por mais que esteja afiadíssimo, continua seguindo a mesma linha, desbravando nova musicalidade, novos ambientes musicais. Excellent Italian Grayhound explora todo o caos das mentes de Steve Albini, Bob Weston e Todd Trainer. Os berros de Albini, que entoam as letras magníficas do disco se entrelaçam com as pancadas firmes da bateria de Trainer e as imponentes dedilhadas de baixo de Weston cobrem o som com a sensação do medo, da euforia coletiva... Shellac é isso. E nunca deixou de ser isso.

Eu estava comentando com um amigo, o Ulisses Barbosa, sobre o experimentalismo do Shellac, e ele me disse:

- Experimentar qualquer um consegue, porém o nível de experimentalismo que o Shellac tem é foda demais de alcançar.

Eu concordei plenamente e acrescentei:

- O Shellac está para o rock como o free jazz está para o jazz.
O Ulisses concordou e simplesmente não havia muito mais a ser dito. Afinal, comentar sobre o Shellac é superficial, ouvir é a principal coisa que você pode fazer para conhecê-los mais.

O disco começa com a frenética e interessante 'The End Of Radio' que em meio a letra, fala de aspectos técnicos do som dizendo "This microfone turns sound into electricity", e traz vocais desleixados que disparam "I got 5.000 watts of time" e berros como "THIS IS A REALLY GODDAMN EMERGENCY!" Tudo isso com uma guitarra que teima em manter apenas duas notas em toda a música. Independente do desempenho da bateria e do baixo. Realmente já virou clássica. Ouça a 'Steady as She Goes', brilhante na pegada inicial, com a guitarra de Albini vindo pra cima, te chamando para o conflito, para o impacto. Se você fugir é um cuzão, e se enfrentar, prepare-se: seja forte. Você acha exagero? Estou apenas tentando escrever, expressar o que é ouvir Shellac. 'Genuine Lulabelle' brinca como o tempo (ela tem mais de 9 minutos) , com o silêncio, com diálogos e claro, com os instrumentos e berros. A breve 'Spoke' começa com a pegada rockabilly até que Albini diz "Let the Drum!". E aí a batera come solta, vindo em seguida baixo e guitarra, os berros continuam acompanhados pela bateria. E se você acha que não há calma nesse disco, ouça 'Kittypants', com sua guitarra mais comportada.

É, meu povo. Trata-se de outro disco do Shellac of North America, do mesmo nível dos outros, sendo impossível haver alguma comparação com os anteriores. Afinal, o Shellac não muda e isso é bom, muito bom.

by Felipe Pipoko

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quarta-feira, agosto 22, 2007

THE GREATEST new!

Hahahahahahahahaha!

Hahahahahahahahahahahahahahahaha!

Me desculpem queridas Björk, Feist e Juliette: a Cat Power está na área. Björk, volte para o seu iglu, Feist engula sua voz (muito bela por sinal) e Juliette, vai fazer xilique na casa do caralho! Porra meu querido leitor, a mulher mais foda da música mundial voará aqui para Sampa, afim de nos proporcionar momento celestiais. E se você tem dúvida se o céu existe, ouça I Don't Blame You e entenda um pouco o que é estar nas nuvens.

Num post anterior eu havia dito que se não temos Cat Power, poderíamos nos contentar com a Björk... mas pelos deuses, eu estava muito conformado, no estilo 'quem não tem cão, caça com gato'. Mas a verdade é que o gato pode ser chutado no rabo porque a euforia é grande, no estilo 'soltar os cachorros', hehehehe.

Eu costumo comentar com um amigo meu sobre as sensações diversas que ocorrerão em meu corpo durante as horas que verei Chan Marshall destilando sua doçura por todo aquele auditório, acenando aos fãs apaixonados através daqueles gestos meigos e tímidos que ela faz com as mãos enquanto canta ou aquele balançar de pés inquietos. Aí sempre chego a conclusão: é algo que beira o sexual. Esse meu amigo, que prefiro manter o anonimato por questões de castração, diz que quando vir a dona Chan no palco, não sabe se vai considerar a existência de outras mulheres, afinal ele estará há poucos metros do que consideramos a perfeição feminina.

A voz dela flutua entre o afinado e o rouco, sim, aquela rouquidão que desliza por seus canais auditivos, preenchendo seu corpo e lhe deixando em estado sublime satisfação. Aquela voz que se adapta à tudo, do rock mais forte à mais calma canção, que se adapta até ao silêncio, é essa voz, esse sussurro dos deuses, que vamos ouvir no dia 25/10.

Faltam dois meses pro show, mas é baseado nessa expectativa que levitarei no mar da ansiedade, ouvindo mais do que nunca os discos dela, vendo os vídeos dela e esperando o dia em que discos e vídeos não existirão, substituídos pela presença física e ao mesmo tempo divina de Chan Marshall.

Foda-se, ela é um sucesso.

by Felipe Pipoko